

Entrevista com Patrícia Fiuza, webjornalista do portal de notícias G1.

Patrícia Fiuza
A rotina jornalística não é fácil. Os prazos são curtos e as informações para apuração são muitas. O jornalismo para web ganha contornos ainda mais complexos - o imediatismo imposto pela internet faz com que se inicie uma verdadeira corrida para dar os fatos em primeira mão, antes de outros veículos. Para conhecer mais sobre a rotina de um webjornalista, entrevistamos Patricia Fiuza, 38, jornalista da Globo há mais de dez anos. Depois de uma longa carreira trabalhando com televisão, hoje ela se encontrou escrevendo para o portal de notícias G1, sem editoria específica, mas com pautas voltadas para contas públicas e transparência.
Como começou a trabalhar com webjornalismo? Era sua ideia inicial ao começar na carreira?
Patrícia: Eu trabalhava com televisão na Globo havia dez anos. Esta era minha ideia inicial quando comecei a cursar jornalismo, mas sempre tive uma quedinha pela web e cheguei a pedir pra ir pro G1 há uns oito anos. Não rolou, mas há quase dois anos surgiu a oportunidade e eu agarrei. Hoje me encontrei - faço coisas simultaneamente para web e televisão.
Como é sua rotina de trabalho?
Patrícia: Trabalho oficialmente à tarde, mas já acordo lendo jornais e assistindo à TV. Quando faço matérias especiais para o G1, costumo entrar na CBN às 9h40. Por vezes, faço reportagem para televisão também, tanto como repórter quanto como produtora. Costumo cobrir folgas dos chefes do G1 e da produção. Hoje, o que querem do profissional, a meu ver, é isso: capacidade de transitar por diversas funções.
Como seu trabalho foi afetado pela pandemia?
Patrícia: Na pandemia estou trabalhando mais. No início, estava de home office - um caos absoluto, porque tenho duas crianças em casa. Então, eu já ligava para o entrevistado pedindo desculpas porque o menino começava a chorar do nada. De julho pra cá, voltei pra redação. Antes de começar qualquer coisa, limpo absolutamente tudo com álcool. Por causa da pandemia, tenho ficado mais na redação, conversando com as fontes por telefone e acompanhando as coletivas através do sinal ao vivo que a engenharia da Globo disponibiliza para a redação. Quando preciso fazer entrevistas para a TV, faço por videochamada. Saio pouquíssimas vezes - eu e colegas de web. O pessoal da televisão tem saído, porque precisam da imagem.
Existe uma diferença de pauta entre as matérias voltadas para web em comparação com jornais, rádios e TV, por exemplo?
Patrícia: Existe diferença sim. Vou falar da diferença em relação à televisão, porque tenho mais experiência. Enquanto na TV, se prima pela imagem - o repórter tem sempre que se preocupar com a imagem que vai “casar” com o texto, na web não.
Na televisão e na web existe a preocupação com audiência, mas a audiência da TV é mais segmentada, especialmente de acordo com o horário dos jornais - de manhã, mais trânsito... o serviço é factual. Na hora do almoço, mais voltado para a comunidade, serviço, principalmente pensado nas pessoas de 50, 60 anos (este é o público do MG1, por exemplo). Na web, o público é mais diversificado. O título conta demais - tem que ser extremamente chamativo para que as pessoas cliquem. Na TV, você tem um tempo mais limitado por assunto, tem que ter uma linguagem mais coloquial, próxima de quem está assistindo. A internet é sem limites - tanto de assuntos quanto de tamanho de texto. Óbvio que, nos dois casos, quanto mais direto ao ponto e claro você for, mais tempo você vai prender o leitor/telespectador.
O legal da internet é que você pode resgatar histórias e matérias antigas, colocando links nas palavras chaves. E é imediatista. Se formos considerar a TV aberta, uma notícia só entra na hora do jornal ou quando a programação dá brecha para o repórter entrar ao vivo com a notícia. Na web você dá o fato exatamente na hora em que está ocorrendo. Sem falar que determinados assuntos, como de contas públicas, caem muito melhor em web que em TV. Justamente pela questão da imagem, que mencionei, e o fato de o leitor poder voltar em algo que não entendeu, o que não ocorre com a TV.
Quais são as dificuldades desse mercado de trabalho?
Patrícia: O mercado de trabalho é restrito, bastante fechado. Mas sempre foi assim, desde que me formei. O importante é sempre se manter atualizado às novas tendências. E como eu disse anteriormente, hoje as empresas não querem mais um repórter para web ou um produtor de TV. Querem alguém polivalente, que faça de tudo um pouco. E que tenha fontes - recurso básico do jornalismo desde sempre.
Como é o acesso às fontes?
Patrícia: O acesso às fontes tem sido cada vez melhor, especialmente após o WhatsApp. Quando alguém não atende, você manda mensagem se identificando, dizendo o que precisa. Como o celular é algo que está na mão - diferente da época em que dependíamos de e-mail -, a resposta costuma ser cada vez mais imediata.
Entrevista realizada por Giulia Muraro e Isabela Souza.